terça-feira, 21 de setembro de 2010

Crônicas do Vigilante Paulistano – O Metrô

Era a terceira vez que esbarravam em Pedro. Qual o nível de dificuldade de pedir licença? Mas, trocadilhos a parte, o metrô paulistano não tem espaço para gentilezas: a pressa e a desconfiança tira das pessoas a noção de educação e, consequentemente, elas se empurram e negam a dar espaço e passagem a umas as outras.

“É por isso que eu luto?”, pensava o rapaz. Com o empurrão, seu mais novo ferimento -- uma luxação recém adquirida no ombro proveniente de um tiroteio -- lembrou-o da noite anterior. Balas dificilmente o matariam, mas sempre deixavam hematomas que duravam horas pra curar. Porém, foi por uma boa causa: impedira quatro assaltos, dois estupros e auxiliou paramédicos num acidente de carro.

Mas agora estava ali, refém do transporte público. Ao seu lado, uma senhorinha balançava-se entre o aglomerado enquanto no banco supostamente destinado a ela estava um “pseudo-malandro”, com boné no rosto, numa péssima atuação de soneca. Pedro achava um absurdo a necessidade de assentos cinza. Para ele, todos os lugares são prioritariamente de idosos, gestantes, pessoas com deficiência e mulheres com criança de colo. Não é uma questão de ser bonzinho. É ser humano. Será que só para ele faz sentido?

O condutor anunciou a estação destino de Pedro, que respirou fundo. Com cuidado, ele foi chegando perto da porta, regulando sua força sobre-humana para não causar acidentes. Na saída, um homem se recusou a dar-lhe passagem e dificultou sua entrada na plataforma.

Foda. E ainda são 7h da manhã.